Xi corações de gente com braços pequenos.
Filipe F., nome fictício, - (entre outras, por causa da novíssima mania da proteção de dados) - cinco reis de gente, quase seis de idade. No ar que o seu rosto espelha, faz-se adivinhar uma explosão dramática. Quem o protege? E quem o salva? Antes que algumas garras o venham prender, agarra-se-me às pernas, lá bem em baixo, quase ao pé dos pés; depois, agarra-se-me e cola-se-me ao resto do corpo todo, aquela porção pouquíssima que ainda falta agarrar, até que já não sobre nada de mim, nem que eu precise só um bocadinho de "mim" para mim mesmo!
Em poucas horas e poucos dias, e isto só porque foi F.F. que impôs e instituiu, no meio daquela algazarra frenética chamada "pátio", passámos a conhecidos de ginjeira, tantos os abraços que já me quis dar e me exigiu, por parecer que precisa frequentemente deles, -os apertões-, à falta de outro seguro de vida ou qualquer espécie de escudo de defesa contra ataques invisíveis à sua (pequena e delgada) pessoa.
Mais uns poucos de dias e já passámos a amigos. Até ao fim do mês seremos, certamente, amigos do peito, e por alturas da chegada de Cristo, teremos ascendido à parte da pirâmide que diz: companheiros! Adivinha-se que a esta, facilmente se lhe seguirá a fase de camaradas; companheiros de armas, depois, companheiros de luta, companheiros inseparáveis... ao que só faltará o atingir do cume, do derradeiro pináculo, que será a condição de..."como irmãos".
F.F.é que quis e determinou unilateralmente! Vai e veja-se que o mundo é mesmo das crianças! Não foi preciso fazer qualquer esforço. É que, enquanto vivemos mais junto ao chão, tudo parece rolar sem barreiras nem obstáculos. -"Leva-me aos matraquilhos, tu prometeste no outro dia, quando eu estava a chorar!...tens aí moedas de vinte? Trocas as notas por moedas na senhora da papelaria...muitas moedas... ela tem! -Não sais daqui, nem vais para perto dos outros meninos! Ficas aqui sempre! - Ajuda-me aqui no exercício... a mim...
Quanto ao "irmãos" ou ao "companheiros de armas", poderei ter as minhas dúvidas, mas pode ser que o "amigos" sobreviva. Talvez, daqui a trinta ou quarenta anos, quando eu já for mais do que velho enferrujado, F.F. apareça do outro lado da rua, num desses pequenos intervalos que os episódios da vida longínqua, madura e agitada ocasionalmente se prestam a dar, e, do alto da sua idade adulta,-(F.F.)- repare em quem eu sou e em quem nós fomos; talvez repare que eu terei uma bengala, que tentarei atravessar tropegamente a passadeira e, então, me venha dar a mão a atravessar. Dar-me-á mais um abraço apertado, ao seu velho estilo infantil, e perguntará: "- Ena!!! Há tantos anos que eu já não o via! Como vão esses matraquilhos com moedas de vinte!!!!? Sabe que eu roubei uma bola e ainda lá a tenho, de estimação!".
E acreditaremos mais uma vez na Humanidade, porque a esperança nos Homens ainda não estará perdida.
Pap...