A morte em tempos de Covid.
A comunicação social continua a expor que as últimas listas, no nosso país, atiram para as 40, 50, 60 mortes diárias, por suposta ação do COVID-19. Se estes números estiverem corretos e corresponderem à verdade - algo que continua a pairar no ar como assunto criticável - então, será caso para concluir que a mesma comunicação social continua a tentar dramatizar uma novela que só lhe dá jeito a ela mesma. Os media fazem distraír e enchem os seus bolsos com euros e audiências, calando, porque não tem grande interesse mediático, pelo menos, umas restantes e ainda muito mais social e humanamente significativas 350 a 400 mortes diárias, devidas a outras circunstâncias e situações clínicas (que não motivadas pelo vírus COVID, e que ficam na sombra). Por exemplo, os que sofrem e morrem de complicações decorrentes da gripe sazonal não são encontrados em lado nenhum, porque a gripe sazonal e as suas pneumonias de caixão-à-cova já estão muito vistas. Vai-se tapando, deste modo, o sol com a peneira, apenas porque o mediatismo com interesses estranhos pretende virar os holofotes para o que lhe convém e se achar que lhe convém, apresentando somente os efeitos diretos e colaterais dum vírus desenhado, decorado e travestido com notas que sugerem uma espécie de desgraça à maneira . O público mais ingénuo cai e deixa-se levar na propalação exagerada de um holocausto pintado à medida e ao jeito de alguns. Mais uma vez, no meio de uma crise realmente existente, há sempre quem se aproveite da desgraça alheia, retirando daí um dividendo jeitoso. O verdadeiro e genuíno (mas limitado!) ato de informar, fica-se a vestir!
Cinquenta mortes diárias criadas pela pandemia é, de facto, um acontecimento digno de relevo, infelizmente, mas quando existem outros números significativos, então é correto que também se fale sobre eles, de preferência sem dramatismo nem novelização, enquadrando a própria SARS COV-2 nesse contexto e dando-lhe a sua devida e própria dimensão. Isso já não temperará tanto, porque não gera tantos "cliques" nem arrebata números tão prodigiosos de audiência atemorizada. O que grande parte da comunicação social faz é aproveitar-se!
A Ética que se fique a lixar. Quando a matemática se debruçar com cálculos de subtraír e os números chegarem a ser outros, provavelmente sem expressão que comova nem amedronte tanto as massas, os media lá terão de se adaptar, reavivando ou fazendo nascer outros dramas e tragédias que incomodem e façam estarrecer a populaça encadeada. Um espectador que não esteja assustado, não é um espectador!
Assim, quando a pandemia morrer, e tendo El Pibe já falecido, não havendo ponta que dê para pegar nestes assuntos, porventura voltará a Venezuela a fazer parte do mapa, com os seus próprios números de miséria e Portugal a boicotar-lhe, uma vez mais, pelas festas, o pernil de porco; voltarão as merdinhas do futebol, como as transferências entre clubes, os salários, as comissões dos agentes e as escandalosas amantes dos jogadores; a radioatividade na água costeira de Fukushima e os peixes metamorfoseados do Tejo, por sevícia de Almaraz; o tempo de serviço e as colocações dos professores (esses sacanas que andam meio esquecidos e passam despercebidos, ganhando muito e trabalhando pouco!); voltarão à ribalta e à agenda necessária, também, a falta de água nas torneiras do sul e nas barragens do Sado, em pleno agosto; a violência doméstica contra as mulheres e contra os filhos delas; também o custo de vida a subir na carteira dos portugueses (a cantar desde 25 de abril!), a continuação do folhetim sobre Joe Berardo e da sua coleção de arte disputada em Tribunal; e Trump!!! já exterminado, mas ainda a reclamar que uma rajada de vento levou os boletins republicanos (só os republicanos!) e que, por isso, ainda é presidente, - contra tudo e contra todos!
Lá assunto que faça estremecer é que não poderá faltar, pelo menos até à próxima pandemia. Sim, porque não há telejornal sabido nem rede social sabichona que sobrevivam sem um tremorzinho de terra.