Contra os pequenos almoços na cama
Quando o ser humano inventou a cama, terá imaginado que ela serviria o propósito de dormir. Depois, reparou que ela também dava imenso jeito para mandar quecas. Terá sido tudo isto, então, por uma questão de conforto e de reprodução, uma espécie de passo seguinte na educação civilizacional, até à chegada dos colchões Pikolin e da máquina de lavar.
Eis que alguém, neste processo de evolução progressista, achou que a cama deveria ser usada para servir pequenos almoços aos preguiçosos, e a humanidade começou a dar alguns sinais de querer regredir. Lamentavelmente neste sentido, mais tarde, chegariam os telemóveis com WI-FI e montes de outras conices bacocas - pintelhismos que servem para tudo, menos telefonar! - os tablets - que são barras de chocolate com sabor a plástico e a transistores de silicone e metal (sim, eu já tentei provar!) - e as redes sociais - que são como as redes de pesca, só que causam mais estrago no intelecto e no ambiente familiar que a frota de arrasto nas reservas piscícolas.
O mundo anda todo completamente baralhado, sem saber bem para que é que servem, realmente, determinados objetos, para que é que devem ser aproveitados determinados espaços ou qual é a utilidade de determinados instrumentos. Qualquer dia, ainda acabamos por cair na bizarrice de ver algum(a) artista porno a abocanhar um clarinete ou um saxofone, ou qualquer maestro a dirigir a orquestra de dildo na mão. Ou, ainda, a ver fazer como o treinador de um clube português famoso,que utilizou o chuveiro do balneário para fazer uma chamada, a julgar que aquilo era um telefone! A juventude,também como nosso objeto de exemplo, tem dado sinais precoces e contraditórios de Alzheimer e Demência alarmante, uma vez que insiste teimosamente em usar o telemóvel para comunicar badalhocamente nas salas de aula.
Por isso, a não ser que alguém esteja doente de forma incapacitante, defendemos que servir o pequeno almoço na cama é uma grandessíssima espécie de merdinha saloia, barroca e baralhante. Eu explico: a cama não é uma mesa, para se levar o fiambre, o presunto e os ovos estrelados para lá e deixar os lençóis com nódoas sebentas, malcheirosas e eternas de gordura. Nem o quarto é uma cozinha, por isso é que as pessoas, na generalidade, não colocam a bilha do gás aos pés da cabeceira, nem o exaustor junto à cómoda onde se guardam as cuecas e os sutiãs. Da mesma maneira, uma sala de estar não é uma casa de banho nem a casa de banho é a sala, a menos que haja gente que goste de ir fazer xixi de propósito para cima dos sofás ou quem receba as visitas e as leve para a casa de banho para tomar chá apoiado no bidé e por a conversa fiada em dia, em cima da sanita.
Estarão muitos a pensar: - deixa que já te mando um comentário a abrir-te os olhos para o facto de o levar o pequeno almoço à cama ser uma forma passada e presente de demonstrar paixão, enamoramento e carinho!
Muito bem!: como forma passada de demonstrar paixão, acredito! Mesmo, essa visão até pode ser considerada como extremamente arguta e fazer imenso sentido à luz de certos olhos, - pelo menos à luz dos olhos de certos primatas!; mas, admitamos, a primeira coisa que provavelmente irá acontecer, se me mandarem esses tais de comentários, é eu simplesmente apagar da forma divertida essas pilhérias, e de rajada; até porque o blogue é meu, e apagar comentários que não me dão jeito algum é uma das poucas expressões de poder a que eu me posso dar o luxo de exercer com eficácia e sem ser judicialmente processado.
De qualquer maneira, uma nota para esses mais que prováveis seres comentadores: expressar enamoramento ou carinho levando comida para a cama também pode ser encarada como uma maneira de animalizar a pessoa que ainda está deitada; as raposas e as doninhas também levam comida na boca para a família, durante a noite e de madrugada, e não são, propriamente, animais muito ternurentos. E eu até já ouvi dizer, de fonte mais ou menos insegura, que as doninhas não levam a comida para a toca para a colocarem em cima da cama. Colocam-na no compartimento mais arejado do covil, para manter a frescura e não criar cheiros.
Por tudo isto, pequenos almoços na cama, NÃO!, por favor! Quem quiser demonstrar amor e afeto, se o quiser fazer em cima da cama, pode sempre tentar começar pela queca. Pode optar por um ramo de flores, por dizer BOM DIA!, deixar um bilhete atencioso para manifestar preocupação e dedicação, ou fazer o pequeno almoço na cozinha e servi-lo LÁ!!!! Outra coisa que pode pensar, é em mandar o parceiro levantar-se, tomar banho e vestir-se, para, depois, poder ir tomar o pequeno almoço à divisão que foi construida para as refeições, como deve de ser apanágio de qualquer ser humano que pretende viver o seu dia normalmente!
Quem quiser ser relaxado e ver alimentada a sua profunda preguiça, que vá para o EMPREGO! Cada galho no seu macaco!
Papagaio