Jorge Nuno Pinto da Cunha, Luís Filipe Arranjinho e Bruno Amigalhaço
Um cronista muito popular e estimado da nossa praça dizia, com tom e palavras de indignação, que Portugal é o país da corrupção geral e sistemática. Das duas, uma: ou ao tipo ainda não lhe explicaram o que é a Venezuela nem a Rússia ou, então, nunca o avisaram que uma nação chamada Brasil ainda existe, por muito que custe a acreditar, mas ainda existe! Pese embora que, neste último caso, tenha havido lições ministradas e recebidas da nossa parte, pela força do convívio e do gene mútuo. Há bichinhos que custam a matar!
Não obstante, Portugal não é país que possa receber o rótulo da corrupção sistemática, muito menos da corrupção geral. Portugal é só o país da corrupção pontual e específica. Pontual, porque a corrupção costuma acontecer, no nosso país, mais aos domingos e sextas feiras (por isso é que alguns políticos e outros costumam tirar licenciaturas à hora da eucaristia ou assinar contratos marotos à beira do fim de semana, quando está tudo distraído no trânsito para casa!); específica, porque a corrupção só acontece no futebol e é executada cirurgicamente pelos três presidentes dos três principais clubes nacionais - é do conhecimento comum que os dirigentes dos clubes que ficam do quarto lugar da tabela da Liga para baixo não têm o mau hábito de corromper ninguém. Mesmo que o quisessem fazer, não teriam possibilidades nem capacidade, porque os três outros estarolas papam especificamente tudo!
A prova disto mesmo que para aqui dizemos, é que, num destes dias que nos dá jeito para a nossa história, um dirigente de um clube da segunda divisão queria oferecer um churrasco à xixa, para uns árbitros se distrairem enquanto se preparavam para apitar um jogo para os lados de Canelas, e não foi possível arranjar frangas para o barbacú, que estavam elas todas reservadas ao aviário, num serviço buffet à là carte, com fruta, leitinho e chocolatinhos na ementa, numa receção VIP de um hotel elegante em Vila Nova de Gaia. Tóómaaa!!
A única exceção a esta regra e a este estado de coisas é, para além da corrupção específica no futebol, também a corrupção na política, que também é específica. E muito pontual! Na política, a corrupção é MUITO pontual. Há pontos em que chegam a ser pedidos, a certas horas, bilhetes para o futebol, mas particularmente apenas para certos lugares específicos da bancada, sobretudo para aqueles em que não é exigido, pontualmente, pagamento específico para ver o jogo.
Por todos estes exemplos específicos se deduz, em particular, e não no geral, mais uma vez, que o nosso famigerado cronista abriu a boca, na sua crónica, com segundas intenções, provavelmente até de má fé específica! Sabe-se lá com o patrocínio pontual de quem! Só pode ter sido por influência de alguém particularmente ligado ao futebol ou à política em geral. De alguém com ligações pontuais à banca não foi, de certeza; algum juíz ou advogado, muito menos! Vendedores imobiliários sistemáticos, negociantes particularmente de sucata ou pneus, nem pensar!
É de lamentar, ainda assim, todo este cenário geral de mentiroso maldizer. Mesmo tendo em conta que a imprensa portuguesa, ela própria, especificamente, é muito pouco influenciável e nada dada a pressões exteriores, sistemáticas ou pontuais. Em Portugal, essas coisas quase praticamente não existem - é tudo absolutamente pontual e específico. De geral e sistemático, só temos a específica inocência aos microfones e a honestidade nos negócios pontuais!
Papagaio