O encantado mundo dos brinquedos...(perdão)... dos bloguistas, sucedâneos e afins!
Aí é onde:
- qualquer um pode ser um autor talentoso, desde que tenha uma conexão à internet.
-as receitas infalíveis para o bolo de courato perfeito estão sempre presentes.
-se pode encontrar um poema profundo sobre a existência, seguido de um tutorial sobre orgasmos nas formigas ou uma bula de como cozinhar gomas numa "air-fryer".
-a sabedoria popular floresce, junto ao conhecimento esclarecido, à mentalidade vanguardista e à legionella nas serpentinas da caldeira elétrica lá de casa .
- não há pachorra para o meio-termo: ou é “maravilhoso, adorei, sei lá” ou “isto é a maior merd* que já vesti”.
- se prima pelo culto dos sentidos e da inteligência: alguns betinhos digitais carregados de abdominais ou com maminhas coloridas parecem ter sido desenhados por um entusiasta bêbedo dos anos 90; outros, optam por um minimalismo tão extremo que fazem o marco geodésico de Vila de Rei parecer uma feira com carrinhos de choque, à noite .
- muitos bloggers e artistas digitais se levam tão a sério, que acreditam piamente que estão a mudar o mundo numa única postagem. No dia seguinte, acordam já da parte da tarde, com gastroenterite provocada pela ressaca e voltam a querer mudar tudo, porque o mundo está igual ou ainda pior que antes.
- há espaço para tudo, desde os gurus do autocuidado e das iluminadas da beleza-norma, aos críticos de televisão de sofá. Afinal, onde mais encontraríamos tanta sabedoria e talento a cheirar a xixi, concentrados numa mesma embalagem?
- onde muitos são médicos, outros, filósofos, Messias, engenheiros, mecânicos, nutricionistas e psicólogos, um pouco de tudo ao mesmo tempo. A suprema democracia digital reina: desde receitas para a psoríase da avó Gabriela, às palmilhas que curam hérnias no hipocampo, até às profundas dissertações sobre a existência de químicos de marca em embalagens com a cara de girls mal comportadas, que juram arrancar fita-cola teimosa da pintura dos automóveis.
- os títulos são um espetáculo lírico à parte. Desde “Seis maneiras infalíveis de transformar a vida do seu cólon com apenas um garfo de sobremesa enfiado no rabo” a “Descubra o segredo escondido da juventude revelado num prato de bróculos cozidos”.
- as plataformas sociais são como entrar num bazar em Marraquesh: num canto, há um blogueiro embusteiro a contar a sua última epifania espiritual enquanto vai limpando a casa com X*mp*; no outro, alguém a partilhar a fórmula mágica da desinfeção com de*ural*in*, que promete lavar desde a canalização interna até aos pecados da infância.
- em trocados por miúdos, se exercita a celebração da liberdade de expressão e da criatividade sem amarras nem algemas, santuário onde cada "posto" é uma peça singular, no grande mosaico da Rede. Todos têm voz, -mesmo os mudos!-; entre o fútil e o inútil, encontramos um reflexo genuíno do nosso caos individual, maravilhoso-pagão que é a vida coletiva online.
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